Fibrilação Atrial

A anarquia elétrica que impera no átrio, um tumulto que rompe o compasso do coração

          A fibrilação atrial é a arritmia mais comum em nosso meio. Ela ocorre devido a um intenso "caos elétrico" nos átrios, o que acelera e torna os batimentos cardíacos irregulares. O principal gatilho dessa arritmia são extrassístoles, que geralmente se originam nas veias pulmonares — as veias que transportam sangue do pulmão para o coração.
      Diversos fatores de risco contribuem para o desenvolvimento da fibrilação atrial, incluindo idade avançada, hipertensão arterial, obesidade, apneia do sono, diabetes, cardiomegalia (coração dilatado), entre outros. Embora essa arritmia não esteja diretamente associada ao risco de morte súbita, pode levar a consequências importantes, como palpitações, cansaço, risco de dilatação do coração, acidente vascular cerebral (AVC) e declínio cognitivo precoce.
          Nenhum tratamento garante a cura completa da fibrilação atrial. No entanto, a ablação tem se mostrado a abordagem mais eficaz para o controle da arritmia a médio e longo prazo. O principal objetivo da ablação é isolar eletricamente as veias pulmonares. Em casos de longa evolução, outras estruturas do coração podem precisar ser abordadas durante o procedimento.
           Há uma ampla gama de técnicas disponíveis, que serão explicadas a seguir.

O que é?

Ablação por Radiofrequência

        Esta é a técnica mais antiga e amplamente consolidada no tratamento de arritmias. Utiliza-se um sistema de mapeamento eletroanatômico que cria um campo magnético, permitindo que os cateteres introduzidos no coração reproduzam, com alta precisão, a anatomia da região a ser tratada (como ilustrado no vídeo ao lado).

        Com o mapa anatômico detalhado em mãos, os cateteres navegam por ele e o procedimento de ablação torna-se extremamente preciso e seguro, maximizando a eficácia do tratamento e minimizando riscos.

    À esquerda, observa-se o átrio esquerdo antes da ablação; à direita, após o procedimento. Cada ponto em tons de vermelho ao redor das veias representa uma área de cauterização do tecido cardíaco.
         As cores no mapeamento têm significados específicos: o roxo indica tecido cardíaco normal, enquanto as demais cores representam áreas de tecido cardíaco doente. O cinza, por sua vez, identifica regiões sem atividade elétrica, que foram isoladas com sucesso pela ablação.

Crioablação

Comparada à radiofrequência, a crioablação é uma modalidade mais recente de energia. Nesse caso, o dano às células arritmogênicas do coração ocorre não pelo calor, mas pelo frio extremo (atingindo -80°C). A energia é aplicada por meio de um balão posicionado no óstio da veia, que é preenchido com gás nitrogênio, responsável pelo resfriamento.

De modo geral, a crioablação não exige mapeamento eletroanatômico. O correto posicionamento do balão é confirmado pela injeção de contraste. Mas quais são as vantagens dessa técnica?

  1. Procedimento mais rápido, reduzindo o tempo de anestesia.

  2. Maior segurança para o esôfago, que está em contato próximo ao coração.

E por que não utilizar a crioablação em todos os casos?

  1. Não permite avaliar com precisão a presença de doença no tecido atrial.

  2. É menos precisa para realizar lesões adicionais fora das veias pulmonares, quando necessário.

Ablação por Campo Pulsado (PFA)

           A pulsed-field ablation (PFA) utiliza um mecanismo inovador para tratar arritmias cardíacas de forma segura e precisa. Diferente das técnicas convencionais, que usam calor (radiofrequência) ou frio (crioablação) para criar cicatrizes no tecido cardíaco, a PFA emprega impulsos elétricos extremamente rápidos e intensos.

         Esses pulsos elétricos geram um fenômeno chamado eletroporação, no qual os impulsos criam pequenos poros nas membranas das células cardíacas. Quando isso ocorre, as células que geram a arritmia perdem sua integridade e funcionalidade, resultando em sua destruição controlada.

          A grande vantagem dessa técnica é sua precisão seletiva: ela afeta apenas as células cardíacas-alvo, poupando estruturas próximas, como o esôfago e os nervos, que podem ser danificados em outros tipos de ablação. Além disso, o procedimento é rápido e pode ter menor risco de complicações.